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30/06/15 -
Promover vivências corporais que promovam a saúde, a socialização e a expressão
de pessoas adultas com Deficiência Intelectual e/ou Autismo é o objetivo de um
projeto pioneiro no Brasil realizado pela Fundação Catarinense de Educação
Especial (FCEE) desde o início de 2014 e que utiliza como base o conceito de
psicomotricidade relacional, que defende o lúdico
como ferramenta pedagógica em contraposição à visão funcionalista do movimento
técnico.
“A
base do nosso trabalho é a psicomotricidade, ou seja, procuramos fornecer
materiais para que os educandos possam se expressar livremente. Buscamos um
espaço de livre expressão, saúde e bem-estar”, explica a psicóloga Rana Santos,
acrescentando que são promovidos jogos e atividades visando a espontaneidade
dos usuários. A equipe trabalha de forma integrada para proporcionar
atendimento completo e de qualidade, abarcando as diversas necessidades das
pessoas atendidas.
Entre os resultados já observados no grupo de educandos, que
frequenta os atendimentos desde o início de 2014, estão benefícios como a melhora
na qualidade da comunicação, nos níveis de ansiedade e agitação e na tolerância
a diversos estímulos, o estabelecimento de vínculo entre pares, o desenvolvimento
de novos comportamentos e o aumento do condicionamento físico. “Este trabalho
aumenta o repertório de comportamento social das pessoas atendidas e
proporciona ganhos de saúde, através da atividade física, e vínculos de
companheirismo no grupo”, acrescenta a psicóloga, citando um usuário autista
como um dos exemplos de avanço do grupo. “No início do trabalho, ele quase não
interagia e agora, após quase um ano de encontros, já se dispõe a fazer várias
brincadeiras e atividades propostas”, afirma.
O trabalho realizado pela FCEE é pioneiro no Brasil por ser direcionado para adultos com deficiência e também por ser realizado por uma equipe multidisciplinar. “Não temos conhecimento sobre nenhum trabalho parecido feito com adultos no Brasil, pois com crianças já é feito em alguns lugares”, explica Rana, citando que o projeto nasceu a partir de um curso ministrado para profissionais da FCEE em 2013 pelo professor Airton da Silva Negrine, profissional com mais de 40 anos de experiência nas áreas de educação física, psicomotricidade, educação infantil e educação especial. Na ocasião, Negrine apresentou o conceito de psicomotricidade relacional, que utiliza o lúdico como ferramenta pedagógica em contraposição à visão funcionalista da psicomotricidade, que defende o movimento técnico.
Outro aspecto que torna o trabalho
da FCEE pioneiro é o fato que os grupos são formados por pessoas com diferentes
deficiências. “A mistura de diagnósticos é uma maneira de proporcionar
vivências diversas aos educandos”, explica Rana, salientando que no mesmo grupo
estão presentes pessoas com autismo e deficiência intelectual. “Mesmo aqueles
indivíduos com comprometimento motor e/ou intelectual mais acentuado têm
benefícios diretos, pois o trabalho proporciona experiências motoras e
sensoriais diferentes daquelas vividas no seu cotidiano, ampliando
o conhecimento do próprio corpo, de suas possibilidades e
habilidades, auxiliando-os a lidar melhor com suas limitações e
favorecendo suas relações e vínculos”, explica a psicóloga do CEVI,
acrescentando que a promoção da espontaneidade durante os atendimentos também
leva a ganhos em autonomia e independência.
Psicomotricidade
Psicomotricidade, segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas e é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.